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Inovação em nome da vida


Artigo publicado na Folha de S. Paulo de hoje (18) 



O meio ambiente está na moda. No ano da COP 21, a conferência do clima das Nações Unidas em dezembro em Paris, não se fala em outra coisa. Inclusive pelos rumores de que lá China e Estados Unidos estariam dispostos a assinar o que se negaram a fazer em Kyoto em 1997. A presidente Dilma na recente visita aos EUA anunciou metas com o colega Barack Obama pelo incremento das energias renováveis, a redução das emissões e o reflorestamento.



A Holanda, responsável por 0,54% das emissões de gases de efeito estufa foi condenada por uma corte de Haia a chegar em 2020 reduzindo em 25% suas emissões, num precedente que já se faz sentir na Bélgica e na Noruega, com processos similares.



Muitos podem achar que até o papa lançou uma Encíclica sobre o tema para surfar na onda da moda. A atitude do santo padre, e do Vaticano, mostra justamente que muito mais do que um modismo, a defesa do meio ambiente precisa ser a política pública que há anos os ambientalistas tentam que seja.



Para lá de ministérios e órgãos de licenciamento ambiental, o meio ambiente tem que estar na pauta das pastas de desenvolvimento e de indústria e comércio, para só então ter o enfoque da economia verde.



O Business & Climate Summit 2015 organizado pela Unesco em maio na França como prévia para a COP 21 concluiu que a transição do modelo atual de economia, baseado no consumo de energia fóssil, para a chamada economia de baixo carbono se dá com investimentos privados em inovação tecnológica e políticas públicas que lhe propiciem escala industrial e comercial.



Mais plausível será um cenário de convivência dos dois modelos, que, no seu curso, evidencia possibilidades e comprometimentos de cada setor com o meio ambiente, na exploração sustentada que preserve e assegure a renovação dos recursos naturais.



O seminário da Unesco também fechou questão pela retirada dos subsídios aos combustíveis fósseis que, mais de US$ 5,3 trilhões segundo o Fundo Monetário Internacional. Na Rio+20 a Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil propôs, no painel Diálogos da Sustentabilidade, a inclusão no relatório final do encontro a transferência do incentivo para as energias renováveis. Nada de subsídios, mas alguma forma de compensação para quem adota práticas inovadoras e sustentáveis.



No Brasil, 128 empresas monitoram para reduzir as emissões de carbono. A medida, contudo, não é efetiva, devido ao acionamento total das usinas termelétricas, que alimentam estas companhias, levando suas emissões subirem 81%.



Antes que pegue por aqui a moda de processos judiciais na defesa de ecossistemas, o país que tem a matriz energética mais limpa do planeta não pode se deixar de inovar na direção da economia verde.



Já o fizemos com o etanol, que precisa ser resgatado antes que a liderança norte-americana se consolide no setor. E pouco a pouco estamos introduzindo alternativas, como a energia eólica, que hoje já responde por 4,3% da matriz, e a solar, com muito a crescer ainda do 0,01% que representa.



O biodiesel não chega a 1% da matriz, mas nem por isso deixa de ser inovador. Vendido na proporção de 7% por litro do diesel fóssil, seus benefícios se dão em várias áreas. Na econômica, com a geração de 113% mais empregos que o refino de óleo diesel mineral, conforme estudo da Fipe/USP.



Em 2014 o país gastou US$ 8,7 bilhões na importação de 70,9 milhões de barris de diesel. Este ano, este custo caiu 16,3% até maio, reflexo do aumento da mistura do biocombustível de 5% para 7% ao derivado de petróleo.



No social, com a inclusão de milhares de famílias de pequenos agricultores na cadeia produtiva com fornecimento de matérias primas. No ano passado elas superaram os R$ 3,2 bilhões, de acordo com o Ministério da Reforma Agrária. É o maior programa de transferência de renda para o campo da pasta.



Recente estudo do Instituto Saúde e Sustentabilidade em seis capitais brasileiras mostra que o aumento progressivo do uso do biodiesel pode evitar 51.188 internações hospitalares por problemas respiratórios e salvar quase 9.000 vidas até 2025, numa economia de mais de R$ 2 bilhões para os sistemas municipais e estaduais de saúde pública e privada.



A alternativa à economia de baixo carbono para a produção industrial de bens e serviços se dá, sim, pelo investimento na inovação das tecnologias empregadas hoje, mas não se trata só de preservar o meio ambiente, mas fazê-lo para preservar a vida humana.



*ERASMO CARLOS BATTISTELLA, 36, é presidente da Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil



Fonte: Folha de S. Paulo