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Brasil deve usar B100 em 2050 segundo relatório do Greenpeace


Um Brasil movido principalmente à biomassa e com zero de fontes não renováveis – petróleo, carvão, gás natural e nuclear – até 2050. Isso é o que promete a mais recente edição brasileira do relatório [R]evolução Energética no qual o Greenpeace traça cenários mostrando como seria possível limpar a matriz energética dos países nos quais atua. O documento atualizado a cada três anos, foi publicado na última quinta-feira (25).



Das quatro edições brasileiras do relatório que já foram publicadas de 2007 até agora, essa é a primeira vez que os técnicos responsáveis pela elaboração dos cenários que formam a espinha dorsal do documento afirmam que dá para chegar a 100% de energia renovável. Na edição de 2013, a projeção mais otimista era de que só chegaríamos a dois terços de fontes limpas até 2050.



Além da equipe da própria ONG, também trabalharam na elaboração do relatório técnicos do Centro Aeroespacial da Alemanha, do Instituto Alberto Luiz de Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe) da UFRJ, da Unicamp e da International Energy Initiative (IEI). O documento se estrutura comparando projeções de longo prazo para dois cenários: o cenário base, onde nenhum esforço adicional é feito e a matriz energética evolui por inércia; e o cenário [R]evolução Energética (RE) que mostra o que seria possível atingir com um esforço coordenado para melhorar a eficiência energética e aumentar o espaço reservado às fontes limpas.



As diferenças são notáveis. No cenário base a matriz brasileira chegaria ao final da linha com 30% petróleo, 8% gás natural, 4% carvão, 31% de biomassa e 26% eletricidade. Já o cenário RE prevê que a biomassa representaria 49% da matriz energética brasileira em 2050, 45% viriam da eletricidade e o restante viria do aquecimento solar e outras fontes.



Embora não seja a única mudança importante prevista no cenário RE, talvez a mais simbólica delas seja o anúncio de um possível desaparecimento dos derivados do petróleo dos postos de combustíveis – já não faria mais sentido chamá-los postos de gasolina – entre 2040 e 2050. Hoje, segundo o próprio relatório do Greenpeace a fatia reservada fósseis em nossa matriz de transportes chega perto dos 81%. Número bem próximo dos 79% apurados pela Empresa de Pesquisa Energética na edição mais recente do Balanço Energético Nacional (BEN 2016).



No caso específico do biodiesel, a projeção é que ele aposente de vez o diesel de petróleo a partir de 2045. Segundo o Greenpeace seria possível chegar ao B20 até 2030 – hoje a Lei 13.263/2016 estabelece a adoção do B10 até 2019 e abre uma janela para a adoção futura do B15. Daí ele prevê saltos de 20 pontos percentuais a cada cinco anos até a adoção do B100 em 2050.

grafico 2050_



 



 



 



 



 



 



 



 



 



 



 



 



 



Grosso modo, em 2050, a bioenergia responderia por 74,5% da demanda de energia na indústria de transportes enquanto a eletricidade para os veículos elétricos ficaria com o restante (25,4%) e um pouquinho viria do hidrogênio (0,1%).



Biocombustível



O fim dos combustíveis fósseis no setor de transportes não significa o começo de uma festa sem fim para a indústria de biocombustíveis. Graças à forma mais eficiente de consumir energia, se pensarmos em termos de demanda pura e simples, o cenário base chega a ser mais favorável à indústria de bioenergia do que o RE.



Se continuarmos esbanjando energia no ritmo atual, chegaremos em 2050 consumido 4 mil PJ de energia produzida a partir de biomassa contra pouco menos de 3,4 mil PJ previstos no RE. Para os biocombustíveis especificamente, o cenário RE projeta que a demanda atingira um platô a partir dos 2040 na casa dos 1,3 mil PJ – isso depois dela mais do que dobrar de tamanho.



Já no cenário base, a expansão do consumo de biomassa no setor de transportes avançaria para além do final do período. Esse efeito se deverá em grande medida à maior ênfase em soluções de eficiência energética que, no fundo, serão as maiores estrelas dessa transição.



Eficiência



Segundo o Greenpeace mais do que simplesmente trocar uma fonte de energia por outra, a grande promessa vem da eficiência que nos permitirá fazer muito mais com muito menos energia consumida. Isso fica agudamente claro quando que se comparam a linha de chegada nos dois cenários: no cenário base a demanda para 2050 beira os 13 mil Petajoules (PJ) enquanto o RE fica praticamente na metade do caminho em 6,85 PJ anuais.



Todos esses resultados dependem fortemente de uma mudança de paradigma no setor de transportes. Para que o RE se concretize evoluir de uma matriz completamente dominada pelo modal rodoviário para outra melhor distribuída. No caso do transporte de cargas, a solução seria pela via ferroviária que daria um grande salto dos atuais 25% para chegar a 46% da matriz nacional. Já no transporte de pessoas, as rodovias continuariam sendo a opção número um embora com uma queda importante de 91% agora para 79% em 2050.



Fora isso, a energia consumida para movimentar pessoas cairia em aproximadamente 6% graças à revalorização de opções de transporte não motorizado.



Somado à adoção de novas tecnologias mais eficientes, a eficiência energética do setor de transportes subiria em 61% em relação aos padrões atuais o que faria deste o maior avanço entre os grandes segmentos da demanda energética nacional superando em muito os ganhos projetados no consumo industrial (40%) e na somatória dos mercados residencial, comercial, público e rural (38%).



Esses ganhos de eficiência e a migração para fontes de energia mais modernas teriam o efeito secundário de deixar custo para manter a economia brasileira funcionando mais em conta. Segundo o Greenpeace até o final do período pesquisado a economia com o sistema giraria em torno de R$ 45 bilhões anuais só com a redução no consumo de combustíveis usados para manter as usinas termelétricas ativas.



A íntegra da edição 2016 do relatório [R]evolução Energética do Greenpeace pode ser acessada clicando aqui.



Fonte: Biodieselbr.com